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McIntosh S.E.E.D. preserva terras e legados com comunidade negra latifundiária no sul dos EUA
Apple e The Conservation Fund firmam parceria com diferentes organizações da comunidade regional para ampliar a retenção de latifúndios sustentáveis e resiliência climática em comunidades de diferentes etnias
O Sul guarda memórias enterradas no solo. Para Junetta O’Neal, proprietária do BoMax Ranch and Retreat em Crawfordville, Geórgia, é um lembrete de seus antepassados que trabalharam arduamente durante gerações antes de ela descobrir o amor pela natureza ao ver um cavalo pela primeira vez.
“Quando cheguei a BoMax, encontrei um ambiente muito relaxante, que me trazia paz e união com a natureza”, descreveu O’Neal. “Eu me senti tocada. Então percebi que só estou nesta posição graças aos meus antepassados. O trabalho deles me permitiu chegar até aqui. Comecei a nomear as estradas em homenagem a eles. Depois de receber meus primos e conecta-los à terra, confirmei que este projeto está avançando na direção certa: criar um legado para nossa família.”
O’Neal participa do programa de retenção de terras e florestamento sustentável da McIntosh S.E.E.D. Ao lado de 20 outras pessoas latifundiárias, ela visitou a floresta comunitária da McIntosh S.E.E.D. em Long County, Geórgia, em dezembro para participar de um workshop sobre florestamento. O’Neal e colegas da área foram com a família conhecer especialistas sobre o assunto para aprender sobre os benefícios do desbaste, a importância de remover o sub-bosque e como medir e identificar espécies de árvores para entender seu valor econômico.
A floresta de quase 465 hectares da McIntosh S.E.E.D. foi adquirida em 2015 em parceria com o The Conservation Fund e é a primeira floresta dos EUA sob propriedade da comunidade negra. Por meio do trabalho educativo realizado no local, a ONG busca ampliar a voz de pessoas latifundiárias de diferentes etnias no movimento de conservação.
“Queríamos um lugar para trazer latifundiários e latifundiárias, um local para demonstrar as práticas de conservação”, afirmou Cheryl Peterson, diretora assistente de gestão da McIntosh S.E.E.D. “Dá poder para as pessoas latifundiárias.”
O McIntosh County, uma ONG da Geórgia, é uma das primeiras organizações do Sul dos EUA a trabalhar com o The Conservation Fund (em parceria com a Apple) para promover o florestamento sustentável, obter justiça racial e criar resiliência climática. Com workshops, treinamentos e programas para a comunidade, a McIntosh S.E.E.D. desenvolve uma estratégia compartilhada para a retenção de terras por diversas etnias e para melhorar as práticas climáticas que podem ser ampliadas para toda a região. Ao usar milhares de terras agrícolas e florestas familiares e latifundiárias da comunidade negra (principalmente igrejas e universidades historicamente negras), as iniciativas ajudarão na luta contra as mudanças climáticas, no apoio às práticas recomendadas de resiliência climática e na adaptação em terras privadas.
“Para promovermos justiça e lutarmos contra a mudança climática, precisamos dividir recursos e nos unir a organizações com conhecimento prático”, declarou Lisa Jackson, vice president of Environment, Policy, and Social Initiatives da Apple. “Sempre acreditei que as soluções mais relevantes surgem quando nos concentramos nas comunidades mais vulneráveis, não quando as ignoramos. Em lugares como McIntosh County, famílias se reúnem para preservar a terra que sustenta todos nós.”
Localizada na costa sul da Geórgia, McIntosh County representa o trabalho da McIntosh S.E.E.D. para preservar diversas comunidades do Sul de diferentes etnias.
“Havia pouquíssimos trabalhos com salário alto ou mínimo para se viver na área”, explica Peterson. “É muito difícil para as pessoas daqui mudarem a trajetória da família toda devido ao limite financeiro. Seja na Geórgia, Alabama ou Mississippi, vejo que todas essas dinâmicas acompanham comunidades marginalizadas.”
Na cidade costeira de Darien em McIntosh County, com uma população de pouco mais de 1.500 pessoas, a ONG se estabeleceu, focou a educação e capacitação de famílias e pessoas negras latifundiárias da região.
O trabalho inclui abordar os impactos das mudanças climáticas, da seca rigorosa e do calor excessivo que provocaram a perda de plantações, furacões e tempestades tropicais cada vez mais frequentes que forçam a evacuação das pessoas.
“A população perdeu a própria casa e precisou sair porque não conseguia reformá-la depois de uma enchente ou porque uma árvore caiu sobre ela”, Peterson afirmou. “Por causa dos eventos ambientais, muitas famílias correm grave perigo. Elas precisam evacuar, mas não têm condições financeiras para isso. Nossa região sofrerá com condições climáticas cada vez piores, sobretudo as comunidades costeiras.”
Embora o foco inicial da McIntosh S.E.E.D. fossem as necessidades específicas da área rural costeira em 1998, Peterson e o diretor executivo John Littles sempre quiseram ampliar os trabalhos para abranger mais comunidades do Sul.
“Não queríamos virar uma ‘cesta de caranguejos’, como dizemos por aqui, em que todos puxam para baixo o que está quase saindo do cativeiro”, disse Peterson. “Queremos unir forças e ajudar o máximo de pessoas e comunidades marginalizadas que pudermos, seguindo o mesmo princípio.”
Como parte dos primeiros trabalhos com a produção agrícola e latifúndios, Littles e Peterson viajaram para o Sul, percorrendo Georgia, Mississippi e Alabama. Eles começaram a perceber como terras florestais com comunidades em sua maioria brancas e ricas eram diferentes de áreas com populações predominantemente negras e empobrecidas.
Enquanto pesquisava sobre os recursos com que pessoas latifundiárias que trabalhavam com a McIntosh S.E.E.D. administravam as terras, Littles percebeu que a falta de conhecimento não era o único fator para a degradação das terras de comunidades de diferentes etnias; existiam também razões culturais.
“Na nossa comunidade, sempre vimos a propriedade como responsabilidade, não como ativo”, Littles explicou. “Também descobrimos que nossa comunidade sofria muita injustiça. As pessoas não ofereciam o valor real pela nossa madeira ou terreno, elas só destruíam a paisagem quando retiravam as árvores. Nada disso era benéfico para a comunidade ou para o meio ambiente.”
Na última década, a McIntosh S.E.E.D. firmou parceria com o The Conservation Fund para identificar oportunidades de gestão sustentável por meio da proteção das terras, de forma a beneficiar tanto a natureza quanto as comunidades vizinhas.
“A perda das florestas devido ao desenvolvimento e ao desmatamento acabam emitindo quantidades relevantes de carbono”, disse Evan Smith, vice-presidente sênior de Conservation Ventures do The Conservation Fund. “Isso contribui para a mudança a climática e reduz a capacidade da terra de reagir e se adaptar às mudanças climáticas.”
É essencial enfrentar a injustiça que comunidades de diferentes etnias sofrem no Sul.
“Existe um certo paradoxo no Sul dos EUA. A região é uma das maiores emissores de carbono do país, além de ter perdido parte das florestas, que são uma ferramenta importante para desacelerar as mudanças climáticas”, Smith explicou. “Ao mesmo tempo, as populações são especialmente suscetíveis ao deslocamento e impacto dos efeitos do clima.”
À medida que o The Conservation Fund começou a explorar oportunidades no Sul, ele percebeu o trabalho da McIntosh S.E.E.D. na interseção entre raça, meio ambiente e comunidade. Os programas da McIntosh S.E.E.D. já previam fortalecer as comunidades locais, ajudá-las a entender e enfrentar os impactos ambientais em casa, ter acesso a recursos naturais e educar e capacitar pessoas latifundiárias com as ferramentas necessárias para exercer o papel com responsabilidade.
“Pessoas que vivem com baixa renda não prestam atenção a alguns problemas porque existem diversos obstáculos que demandam mais atenção”, Littles explica. “Então, o primeiro passo é ensinar sobre o clima, como ele afeta as pessoas, as terras e a comunidade. Em seguida, explicar o papel de pessoas latifundiárias nas mudanças climáticas e como melhorar a gestão das terras.”
Na comunidade florestal, Peterson exige a atenção de participantes no workshop e se dirige diretamente ao público jovem para explicar a responsabilidade que terão quando herdarem as terras da família. Ela parece estar em completa harmonia com a floresta, reconhecendo seus benefícios, valores e a importância de manter as terras para gerações futuras.
“Não é comum encontrarmos profissionais negros e negras na área de florestamento”, Peterson explica. “Queremos construir florestas e apresentá-la às nossas crianças, para que essa seja uma opção de trabalho no futuro. Mas, para isso, elas precisam estar conectadas com a terra.”
O compromisso de Peterson de revitalizar famílias e comunidades vem de seus antepassados, que deixaram nela o desejo inato de servir a outras pessoas. “Ela nos falou sobre a importância de dividir”, ela relembra sua bisavó, que repartia o chiclete em pedaços suficientes para dividir com Peterson e mais 12 primos e primas. A história era repassada nas reuniões de família durante gerações para lembrar de que se deve sempre ser uma família disposta a dar sem importar o que tem.
“Não estarei aqui para sempre”, disse Peterson, “então poder passar esse conhecimento adiante me garante que futuras gerações manterão as terras mesmo quando eu não estiver presente. Meu bisavô trabalhava na indústria de celulose. Tudo que minha família tem é resultado do trabalho árduo dele. Hoje temos essas terras graças às mãos calejadas dele e aos calos nas mãos e cicatrizes nas costas dos antepassados de várias outras famílias. Depende de nós dar continuidade a esse legado.”
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