Narrando personalidades do Juneteenth com iPad Pro e Apple Pencil
FEATURE
17 de junho de 2022
Ilustradora, criadora de quadrinhos e acadêmica, Ajuan Mance traz o passado para o presente com retratos de figuras negras históricas para celebrar o Juneteenth
O rio Combahee flui para o sudeste passando pela Carolina do Sul, uma rota de quase 65 quilômetros que deságua no estreito de Santa Helena. Há mais de um século e meio, no dia 1º de junho de 1863, o Combahee trouxe a onda de emancipação quando Harriet Tubman e seu regimento de 150 tropas da Black Union ajudaram mais de 700 escravos a fugir para a liberdade a bordo de duas canhoneiras. Para Harriet, o rio marcou seu heroísmo como a primeira mulher a liderar uma operação militar armada nos EUA: o ataque a Combahee Ferry. Para a ilustradora, criadora de quadrinhos e acadêmica Ajuan Mance, esse é um símbolo do movimento geográfico, entre o Norte e o Sul, e político, da Proclamação de Emancipação e do Juneteenth à Lei dos Direitos Civis, que Harriet e outros ativistas promoveram ao longo da história.
“Seu ativismo desafiou sistemas e políticas que limitaram o momento e a forma como a população negra podia se mover pelo mundo”, disse Ajuan, comparando Harriet à ativista de direitos civis Rosa Parks. “Essas limitações do movimento negro não eram apenas ferramentas de opressão, mas também símbolos do controle branco sobre os negros. Harriet Tubman usou o movimento do Sul para o Norte como ferramenta para libertar outras pessoas negras, e Rosa Parks rejeitou o acesso condicional dos negros ao transporte. A base do ativismo feminino era a restauração do direito de ir e vir da população negra pelo próprio mundo.”
Para celebrar o Juneteenth, Ajuan relembra uma série de desenhos digitais criados no iPad Pro intitulados “The Ancestors’ Juneteenth”, em que ilustra figuras negras históricas em cenários modernos para refletir a jornada da comunidade do século 19 ao século 21. Nessas ilustrações, Ajuan primeiro cria os desenhos em tinta e papel, depois digitaliza a imagem com o Adobe Scan no iPad Pro. No Procreate, Adobe Photoshop e Adobe Fresco, ela colore a digitalização feita com lápis azul apagável, para simular o processo de criar os quadrinhos, e adiciona camadas de cor usando o Apple Pencil, um processo que ela costumava fazer com uma mesa de luz e ferramentas analógicas.
Como artista que costuma trabalhar com escalas maiores, Ajuan gosta de poder ampliar partes da imagem gigante no iPad Pro. “Com o iPad e o Apple Pencil, consigo desenhar, manipular, colorir e adicionar efeitos a detalhes minúsculos com facilidade”, ela conta. “Assim, quanto mais de perto as pessoas olharem, mais elas verão.”
Como parte da série do Juneteenth, Ajuan ilustra Rosa e Harriet em um piquenique às margens do rio Combahee. “Elas foram tão importantes para quem não tinha a mesma liberdade de movimento que mantiveram esse papel icônico na nossa mente. Durante sua luta, Rosa Parks foi presa e subiu os degraus do tribunal para que tenhamos menos obstáculos do que ela teve em vida. Harriet Tubman foi do Sul ao Norte no mínimo 13 vezes para levar os negros à liberdade. Por tudo isso, essas duas mulheres merecem um descanso. Pensava que tudo o que queriam fazer hoje era sentar ao lado do rio, relaxar e deixar a água fluir”, disse Ajuan.
Ajuan se descreve como uma detetive da história. Ela é capaz de passar horas vasculhando arquivos e se debruçando sobre fontes primárias, textos religiosos, fotos e outros documentos para encontrar o que não sabemos sobre a comunidade negra do século 19. Seja para se preparar para uma aula no Mills College em Oakland, Califórnia, onde leciona literatura Afro-Americana, ou para começar uma nova peça de arte, ela sempre pesquisa para relembrar uma imagem das pessoas e o período histórico que está explorando.
Para o “The Ancestors’ Juneteenth”, descrito como obra de ficção especulativa, Ajuan imagina quais figuras históricas de diferentes períodos seriam amigas e sobre o que conversariam. No piquenique de Rosa e Harriet, com detalhes complexos até sobre o livro que estavam lendo, ela enfatiza que toda conversa tem um toque de humor.
“Meu objetivo é humanizá-las”, Ajuan explica. “Elas são personalidades importantes por quem tenho muito respeito, mas também precisamos entender e perceber que são pessoas normais, como eu e você. Na minha opinião, essa visão cria um senso de intimidade muito forte e instigante com nossa história.”
Parte do processo de humanizar essas figuras históricas é o diálogo entre elas e suas características pessoais. Para destacar esses traços, Ajuan os recria com humor e leveza, diferente de como o mundo as conhece. Para Harriet, que quase nunca era vista sorrindo, Ajuan enfatiza um sorriso jovial. Em todos os seus retratos, ela começa pelo nariz e segue pelos lábios e olhos, finalizando com os cabelos e suas formas. “Sou fascinada pela herança africana, que está praticamente escrita no corpo e representa nossa história, e pela forma como a vestimos”, ela conta.
Ajuan começou a criar usando o iPad Pro e o Apple Pencil enquanto dava aulas de desenho digital no Mills College. Ela continua impressionada com a maneiro pela qual o iPad simplificou seu fluxo de trabalho. “Consigo criar um esboço e delineá-lo usando o mesmo app, no mesmo aparelho”, ela diz.
Ela também diz que, graças ao iPad, seus alunos e futuros artistas podem ter acesso à arte e desenvolver habilidades artísticas compatíveis com vários aparelhos, seja para trabalhar no Adobe Fresco ou Procreate no iPad, ou para transferir um projeto para o Mac.
“O iPad garante a todos o acesso à arte”, Ajuan continua. “Vozes e visões estéticas diferentes estão ganhando força e alcançando um público grande. Nada disso seria possível há 10 ou 15 anos.”
Embora a Proclamação de Emancipação tenha sido legislada em 1º de janeiro de 1863, demorou mais de dois anos para o direito legal à liberdade ser conhecido para toda a comunidade negra. Em 19 de junho de 1865, comemorado hoje como Juneteenth, a escravidão foi oficialmente abolida no Texas com a marcha das tropas federais até Galveston.
“Juneteenth é o dia em que os Estados Unidos legalmente viram a população negra como ela se via: seres humanos com direito à liberdade”, Ajuan disse. “Espero que reunir figuras negras históricas em cenários atuais seja um símbolo de união capaz de demonstrar que, independentemente do tamanho da nossa nação, mesmo com os momentos históricos divididos da Guerra Civil e da liberdade, somos uma única comunidade.”
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